O ano que passou

Uma vez que a euforia da passagem de ano já passou, penso eu, aproveito este domingo para pensar no que me aconteceu no ano passado.
Foi, dos anos que me lembro, um ano intensamente vivido. Finalmente comecei a fazer o que realmente gosto, viajar!
O ano que passou trouxe-me muitos dos melhores momentos da minha vida, de entre os quais destaco:
- A viagem, de madrugada, para Marrocos. Foi uma directa a conduzir por Beja, Aracena, Sevilla, Jerez de la Frontera, Algeciras, Ceuta
- Tudo que eu, o Canha, o Pedro e a Joana vivemos em Marrocos. Não há explicação possível. É difícil escolher o que mais marcou. Quando há um choque de culturas, tudo ganha uma nova dimensão. O que é simples e habitual para um árabe é, aos olhos de um europeu algo extraordinário. Tudo teve um impacto impressionante, desde a fronteira de Ceuta e a quantidade incrível de taxis azuis, sentir na mão os Dirhams, a condução marroquina, o choque que foi Tétouan, as malditas tinturarias de Fez, cagar espuma no deserto do Sahara com um céu coberto de estrelas, o amanhecer no deserto, todas as viagens de carro, a polícia, o Samir, as medinas, Chefchaouene, as calhaus de pólen, a comida, as pastillas, o calor, as pensões rascas, a radio désert, o maldito cão do Ksar de Ait-Benhaddou, os yogurtes de Marrakech; as motas, que mais pareciam moscas, de Marrakech; A praça Djemaa-el-Fna, o assalto gay, a bancada da Aicha, as antigas cidades portuguesas de Mazagão (El Jadida) e Arzila (Asilah), a cisterna, as batatas fritas com sabor a queijo, o fabuloso «d'accord!», o chá verde, as compras, regateanço e o Seat Toledo, esse grandioso Seat Toledo que arrancou numa subida, carregado e em terceira! A minha lista podia continuar e não mais parar!
Lá voltarei, para redescobrir e descobrir o que falta. Fica prometido.
- Já que estamos a falar em viagens, aproveito para "passar o pano" na viagem à Bélgica. Uma viagem marcante, mas por outros motivos. Foi uma viagem importante que foi marcada antecipadamente para uma altura que me seria fatal. Sem eu saber no que me iria acontecer em Outubro, marquei em Julho uma viagem que só podia, de facto, ter sido marcada para aquela altura. Foi bom saber que a Susana Rocha está bem. Se há mulher que merece estar bem na vida, essa mulher chama-se Susana Rocha. Merece tudo pelo seu esforço, dedicação e "amor a uma causa". É feliz e isso nota-se. Acho que foi o que mais me marcou nessa viagem. Obrigado pelo apoio, por me teres recebido na pior altura da minha vida e por me teres ajudado (dando alojamento) a visitar coisas que, com certeza, ficam na minha memória. Pude constatar que Brugge é, muito provavelmente, uma das mais belas cidades que vi. É magnífica! Vale a pena ir à Bélgica só para visitar Brugge, mesmo que não se goste do resto - o que não foi o caso. Recordo-me da universidade de Leuven, daquela magnífica câmara municipal, da ordem, do frio, de Gent, das sandes Serrano da Panos, da desilusão de Bruxelas, do fiasco de Aachen, da desilusão do Atomium (se bem que deu umas belas fotos!) e da multa de 300 euros da qual me safei com muita mestria!
- Lembro-me de Santo Tirso, do parque da Rabada, da Assunção, do banho em Mindelo às 21h, do jantar, da Marli, da descomunal bebedeia que nos ía atirando de uma ribancira abaixo e a fabulosa frase da Joana: «Ó Renato, talvez seja melhor seres tu mesmo a conduzir!" LOOOOOL. O resto de Santo Tirso, fica com os deuses...
- Mais uma vez, o mês de Outubro revelou-se fatídico para a minha existência. Setembro é o mês dos aniversários. Outubro tem, desde já, o meu título como o mês horribilis. Houve, há alguns anos, um 20 de Outubro. Agora há um 10 e 11 de Outubro. De um momento para outro, a vida muda. De um momento para o outro deixamos de ver o mundo da mesma maneira e constatamos que aquilo que julgávamos ser treta- quando as pessoas dizem que depois de um dado acontecimento deixam de ver a vida da mesma forma- revela-se verdadeiro. Nunca julguei que ia ver a vida dessa forma, mas enganei-me.

Quando um jovem de 22 anos é obrigado a deparar-se com certos cenários, a relativo curto prazo, a vida muda. Por mais que alguém não queira (e eu nao queria, note-se), ela muda. Foi assim, através de uma debilidade, que finalmente passei a ver a minha vida de forma diferente, a dar-lhe valor. Os objectivos tiveram de ser repensados e alguns sonhos tiveram mesmo de ser abandonados... A vida muda, mesmo, quando um rapaz de 22 anos sabe que, por muito que lute, não vai poder realizar algo. Pela primeira vez na vida tive que engolir um grande sapo. Se custou? Sim, custou! É difícil, para alguém como eu que raramente cede ao que quer que seja, ter que se vergar a algo que não estava à espera. O golpe torna-se ainda mais duro quando este vêm de onde menos esperamos. Apesar de tudo, a vida continua e, ao contrário do que se pode pensar, a minha vida mudou para melhor.

Ora, para grandes males, grandes remédios. Perante uma "catástrofe" tive um grupo de amigos que me foi essencial. De repente, os amigos realmente importaram. Uma das coisas que mais mudou foi eu pensar que podia viver "Só". Se podia, não o posso agora. Tive uma mão cheia de amigos que ficaram horas e horas a ouvir-me e a ver se tudo corria bem. Tive amigos que me ajudaram a dormir, a comer, a pensar e a abstrair-me dos males da vida. Reparem que o Renato, que sempre se julgou imbatível, precisou de ajuda para isto. A pessoas como o Canha, Susana Rocha (quando fui à Bélgica e não só), a Joana, a Liliana, a Andreia Melo, o Bruno Martins e alguns dos meus companheiros de secundária tenho a agradecer, "publicamente", todo o apoio que me deram (peço desculpas se me esqueci de alguém). Pode parecer estúpido - la está, são aquelas coisas que julgamos que são uma grande treta e um grande cliché - mas sem eles, já cá não estava. Obrigado por terem sido o melhor que me aconteceu quando o pior surgiu.



Os novos olhos que os azares da vida me deram permitem-me, neste momento, por muito estúpido que pareça, ver o quão ridículas certas pessoas são sem terem noção que são ridículas. Eu não pretendo deixar de ser ridículo. Farei, aliás, todos os meus esforços por ser cada vez mais ridículo, interventivo, atrevido e descarado. Uma das coisas que sempre me deu mais prazer foi por as pessoas em situação desconfortável. Quando as pessoas são postas em situações às quais não estão habituadas, revelam-se. Não pretendo abdicar deste meu prazer, por nada deste mundo. Tenho agora um maior apetite para provocar certas pessoas que, em certas situações, me fazem rir. É por esse motivo que existem pessoas como Maria da Graça Brotas, Rui Rijo, Andreia Tatiana Rocha, entre muitos outros. A eles quero agradecer tanto como os amigos que acima referi. A eles quero agradecer as tristes figuras que, sem se aperceberem, fazem. A eles quero agradecer as horas de riso que me proporcionam. Que fique bem claro, se não vos tivesse conhecido a minha vida seria muito menos feliz! São vocês que me fazem sentir o Vasco Pulido Valente do IST! (isto não quer dizer que eu queria ser o gajo xéxé que ele é!)

Os mesmos olhos que me permitem ver quão ridículo Às vezes consigo ser e quão ridículas certas pessoas levaram-me a conclusões sobre a minha vida. Estou num estado de euforia tal que parece que todo as minhas veias batem sininhos e todas as minhs células gritam "toca a viver!". (que afirmação ridícula!)
É por isso que pretendo rapidamente seguir a minha vida fora de três malditas letrinhas. E isso vai acontecer. Para este ano está planeada uma viagem, sozinho, durante um mês, num local onde eu seja um perfeito desconhecido (já o sendo). Irão, Índia, Egipto, Síria, Japão ou "deep saharan" Tunisia são actualmente as escolhas. Tem de ser uma viagem de recompensa. Capital já o há, agora é pensar e ver o panorama internacional.
São estes os meus tipos de sonhos. deixou de ser importante para mim comprar uma casa, um sofá, um carro, uma televisor plasma e afins. Passou a ser importante viajar. É esse o meu desejo. Não ser um pobre coitado que sai de casa cedo, apanha transportes, trabalha e volta cansado para casa para repetir esta maldita rotina milhares de vezes na vida. Lamento, não quero ser "MAIS UM". É esse, desde Outubro, o meu desejo primordial.

Já perdi muito do meu raciocínio. Por último mas não menos importante, queria agradecer a alguém que entrou na minha vida e que, apesar de todas as adversidades, se mantém a meu lado. Quero agradecer a tua compreensão, o teu respeito, o teu carinho, o teu amor e o facto de teres sido a única pessoa na Terra que me fez escrever isto num blog. Um autêntico milagre! Obrigado por tudo, mais uma vez, por teres aparecido na minha vida.

Ficam aqui alguns dos meus "várias coisas" favoritos:
- O Samir, que nos queria cobrar 30 euros para nos mostrar a medina. resultado, um marroquino enganado por portugueses.
- A fabulosa frase "Esta lei, para aqueles fumadores invertebrados, é uma lei fascista!"
- O grandioso provérbio "Pimenta no cu dos outros é refresco!"
- A rapariga de Coimbra, com 8 anitos, agarrada a um poste a simular um strip-tease.
- Ter descoberto Low e Tom Zé e The Knife.
- A PJ Harvey ter feito aquele bendito "White Chalk".
- Passar o ano vidrado a olhar para o video da "Pass this on".
- "Brummmm, Brummmmmm"
- Garrafas de Malibu "coconut rum".
- Aventuras de Bruno Martins em vésperas de Santo António (Ahh, grande homem! Saíste ao Natos!)
- O fabuloso carnaval. Madonna Rules! (devo confessar que adoro esta foto)



- Um carro (o meu grande carro. Tem tanta história para contar!) português mais marroquino que os marroquinos. Tão porco que até os marroquinos olhavam!
- A descomunal bebedeira no Santo António em que Renato Santos se deita na Avenida da Liberade, no asfalto da Praça dos Restauradores a gritar "Se aquele poste diz que gosta de mim, eu começo a por-lhe defeitos para não gostar dele!"
- A festarola depois da vitória do "Sim" no referendo do dia 11 de Fevereiro.
- Os comentários do night-wolf! Obras primas de quatro linhas.
- A fabulosa frase de Joana, numa paragem da praça do Comércio, que me ia dando como prémio uma valente noite de sexo em grupo!
- "Eu sou forte, tu não és fraco, se a gente fica junto a gente arma um barraco"
- Ter descoberto o prazer de mijar à gaja com a minha grande amiga Joana!
- muitas coisas inconfessáveis...

Queria agradecer Às seguintes canções o facto de muito terem alegrado os meus ouvidos:
- "The Mountain" e "Grow Grow Grow"(PJ Harvey)
- "Pass This On" e "Heartbeats" (The Knife)
- "Gospel" (The National)
- "Dinosaur Act" e "Lazy" (Low)
- "Mã" e "Tô" (Tom Zé)
- "Boyz" e "Jimmy" (M.I.A.)

E para finalizar queria manifestar a minha profunda desilusão sobre "O Céu de Anastácia" de Marli... Não vou falar mais para não chorar.

Um grande bem haja!

(isto ficou tão grande e tão à pitinha que tem muita coisa pra contar! XKABÉXS!)