Hoje, de manhã, discuti com dois espanhóis a velha – e ao que parece, nova – questão da união destes dois países. Eles, ao saberem que não sou Português, estavam muito interessados em saber qual a minha opinião em relação, primeiro; aos tais 28% da população portuguesa que gostavam de ver os dois países juntos; segundo, numa sondagem mais pessoal, qual seria a minha opinião sobre o assunto dessa sempre suposta e eternamente desejada união ibérica…
Comecei, então, a explicar como a minha opinião se foi formando ao longo os tempos.
Quando cheguei da Venezuela, lembro-me de ter perguntado à minha mãe - depois de ela ter dito que estávamos muito longe donde eu costumava estar – o seguinte:
“Pero mámá, donde estamos viviendo?”
Lembro de a minha mãe pegar num atlas e ter apontado para a península ibérica e dei-me por satisfeito. Contudo, passados uns meses, anos até, olhei para o dito pedaço de terra de uma forma inconscientemente interessada. Confesso que o que me causava mais confusão era o facto de Portugal não ser Espanha. Naquela altura, o que para mim fizera sentido, à luz da minha simplicidade mental e argumentativa, era aquele pedaço de terra ser um só país. Causava-me confusão aquela parcela rectangular ali, rodeada de uma coisa proporcionalmente gigantesca em toda a sua volta.
À medida que fui avançando na idade, comecei, na escola Portuguesa a ter conhecimento da história do rectângulo. Todos aprendemos o mesmo, não vale a pena referir. Há milagres neste mundo e acredito, veemente, que a existência de Portugal é um deles.
Muitos dos estados dessa Europa, estiveram juntos outrora. A República Checa e a Eslováquia foram, outrora, a Checoslováquia. A Eslovénia, Croácia e afins, foi a história que se sabe… Os países de báltico outra história foram, também. São estados pobres de história que, miseravelmente, sofreram ocupações e têm no máximo 15/20 anos de história. Ainda há poucos meses se viu o desmembramento quase definitivo dos Balcãs, com o afloramento de um Montenegro independente. Todos estes estados e muitos outros tiveram “uniões” não muito distantes, uma quase falta de identidade própria. Ainda no início do século passado a Finlândia estava em mãos russas.
É por estes motivos que acredito que se Portugal, desde 1128 (apesar de ser reconhecido como independente desde 1143), só esteve 60 anos num falso domínio espanhol, é por milagre. Mesmo nesta altura de domínio filipino Portugal era “quasi-independente”. Filipe II de Espanha era Filipe I de Portugal, ou seja, continuávamos a ser, em certa medida, “um só”. Ainda hoje celebramos 1º de Dezembro, quase 400 anos depois.
Para além de ser o país mais antigo da Europa, Portugal ainda se pode orgulhar de ter sido, provavelmente, um dos poucos países a mudar o rumo do mundo. Se Portugal se comparar à Espanha (quatro vezes maior), no que deixou ao mundo, a proporção desvanece-se. A Espanha teve que dividir o mundo com um país muito mais “fraco” que persistentemente lhe fugia das mãos. Em termos de proporção, a grandeza de Portugal é única e, ao ter aprendido isto, descobri que há, naturalmente, toda a legitimidade de Portugal existir por si e para si.
Expliquei isto aos espanhóis que me abordaram com a pergunta. Ficaram convencidos da minha opinião do ponto de vista histórico, mas eles estavam realmente interessados em saber outra coisa. Fui questionado o porquê de fugir a uma realidade, realidade essa que dizia respeito às questões económicas de Portugal quando comparadas com as de Espanha, etc’s. Eles afirmam, e bem, que Portugal foi grandioso, mas já não o é. E eles até elogiaram o facto de, contra todas as tentativas, Portugal ter sempre rido “por último”. Mas insistiram no Portugal do presente… Confesso, que, de certa medida, e por uns instantes, pensei na melhor maneira de “matar” por ali a conversa. Cedo verifiquei que quando as questões económicas vieram à tona, a conversa seria propositada para “me encurralar”. Limitei-me a dizer o seguinte, numa perspectiva do “quem cala consente”:
Referi, em suma, que prefiro ter menos Euros do que viver num país que, durante anos, teve organizações como a ETA. Prefiro viver com menos euros do que ter atentados como os do 11 de Março. Prefiro viver num país mais pobre mas que, ao menos, seja um pouco mais homogéneo que Espanha… Todos falam das excelentes performances de Espanha a nível económico. OK. Mas e se formos à Andalucia, à Extremadura, à Galícia? Vemos o desenvolvimento de Madrid, de Barcelona ou de Valência? Não. Não vemos. A Espanha também sofre das desertificações no interior, das pobrezas e desigualdades e de atrocidades. A sorte de Espanha é que tem um conjunto de cidades que tapam imensos buracos que poucos têm conhecimento. Já para nem referir os problemas das lhas Canárias que recebem milhares e milhares de imigrantes ilegais, arriscando a vida em botes que uma ondazeca pode facilmente destruir…
Se Portugal tivesse mais uma Lisboa, ou mais um Porto, melhor se diria de Portugal, porque era mais uma cidade a tapar com areia os problemas das outras zonas…
Aliás nem é por acaso que são mais os Espanhóis que querem a união que os Portugueses. Em Espanha a percentagem dos senhores “a favor” era de 46%...
Ao finalizar perguntei aos jovens porque motivo cada vez se fala mais das supostas independências das Catalunhas, Galizas e Países Bascos, sendo Espanha um país tão bom? Disseram, de imediato, como qualquer bom espanhol, que eu estava a fugir ao tema…
A conversa acabou definitivamente com um senhor Argentino, de nome Esteban, a dizer que está mais próximo a separação de Espanha (basta o país basco se tornar independente, para o resto se seguir…) do que a união com Portugal….
Não sou português, mas sinto-me um deles. Gosto de fado, gosto de bacalhau, gosto da maneira de ser dos Portugueses que, para o bem e para o mal, é única!
Só tenho pena que antes tenhamos sido um país de objectivos claros e agora parece que andamos à deriva. Se soubéssemos para onde raio queríamos ir, era certo que Portugal conseguia chegar lá depressa… Não se compreende como é que um país anda, vai para sete anos, em crise… Mesmo assim, viva o cantinho e que se foda uma união Ibérica.
(Nada de pensarem que não gosto de espanhóis)
Que acham?
sexta-feira, 17 de novembro de 2006
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2 comentários:
sabes que aqui por terras belgas, com o convivio diário com tanta estrangeirada, as caracteristicas de cada nacionalidade são realcadas. Eu digo mal de Portugal, do ensino, dos tribunais, dos hospitais... Mas sou portuguesa. Tenho orgulho da nossa história. Tenho orgulho de ser capaz de entender esta estranha forma de ser. Tenho orgulho na nossa bandeira. E esse ter orgulho de ser português é a característica mais comum nos portugueses. Não conheci nenhuma outra nacionalidade que tivesse tanto orgulho do seu pais como o pobre do português...
Concordo. Não existe povo mais patriota que o Português. Existe algumas pessoas que devido à actual crise económica, dizem disparates. Mas eu acredito que iremos superar esta crise, e que iremos melhorar a nossa qualidade de vida.
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