sexta-feira, 23 de setembro de 2005

I Am, You Are, She Is...


Esta é das novas cantoras que mais me tem fascinado e prendido à porcaria da aparelhagem.
Chama-se a menina Emma Louise Niblett, nascida em Nottingham que, para quem teve negativa a geografia e não sabe o que é um mapa, fica na Inglaterra.
Emma no mundo da música transforma-se em Scout, Scout Niblett, uma gaija que é tudo menos "normal". Não é daquelas típicas "grandas malukas" que andam metidas nas drogas, ou que fazem figuras parvas só para parecerem diferentes. O engraçado nela é que ela é, efectivamente, diferente no que à música diz respeito.
Scout começou a caminhar o seu percurso desde 2001 quando nos entregou aos ouvidos "Sweet Heart Fever". Logo começaram comparações com Chan Marshall, aka Cat Power, e à PJ Harvey. Foi esta última comparação, feita no review deste álbum,(com uma das capas mais fabulosas de todos os tempos, na foto) numa blitz, que me despertou a atenção. Lá diziam que esta senhora era estranha e insistiam na estranheza da música dela. Claro, nada melhor que dizer isto para o Natos ficar curioso.
Álbum sacado a ferros, com muita paciência e dedicação, "I am" foi a grande descoberta que fiz nos últimos anos. Lembro-me que quando o ouvi a primeira coisa que pensei foi - Esta merda é mesmo boa!. "I am" rodou captou a minha atenção e, até hoje, já lá vai mais de um ano, a moça toca regularmente shows privados no meu quarto, onde o Renato se perde a tentar imitar os berros da cândida e imaculada voz de Niblett.

A música de Scout, especialmente neste "I am", parece-se com a música de uma menina que pega pela primeira vez num instrumento. A primeira vez que pegamos numa guitarra, dedilhamos desajeitadamente as cordas, desafinados e tudo o mais. Contudo, nessa fase, estamos inundados pela curiosidade, pela sensação de querer descobrir o novo que há naquele objecto desconhecido.

A música de Scout parece-se com isso mesmo, uma menina a dedilhar,com insistência, as cordas que não conhece, de uma forma mecanizada que por vezes consegue irritar um morto.

Um belo exemplo é a canção "It's all for you" onde ela solta a estupidez propositada que só lhe fica bem:
Gimme a T! Gimme an R! Gimme a U! Gimme a C! Gimme a K! For truckers!

Confesso que a primeira vez que reparei na letra fiquei assombrado.

As canções de "I am" dividem-se em:
-Canções só de bateria
- Canções com ukeleles
- Guitarradas

As canções que mais prendem são, como será de esperar, as canções só de bateria. Uma delas, ao longo dessa aventura estranha diz:
"We all gonna die, we all gonna die, we don't know when, we don't know how"

Isto cantado com um ar de gozo, num ritmo frenético e com a típica voz de Scout, uma voz de criançola que, à semelhança da música, parece que está a aprender a cantar.

Outra canção maravilhosa é a "I am". Aqui o ukelele é rei e a canção é das coisas mais belas que ouvi em tempos. "I am an emergency vehicle, I am" é repetido à medida que aquela melodia estranha se entranha nos ouvidos devido à sua originalidade.

Se este cd tivesse mais qualquer coisa, ou seja, canções mais "cozinhadas", mais trabalhadas, se não fosse tão "vago", seria certamente um êxito estrondoso, mas o que me dá mais gozo neste cd, e aos muitos que a adoram, é precisamente essa maneira de deixar as canções com sabor a incompleto, com aquele gosto que devia ter posto aqui algo mais, aquela sensação que o cd é completamente despido e está reduzido ao mínimo essencial.


Toda ela é boa. Ela é uma fixolas, tem uma voz maravilhosa, ideias fantásticas, é irreverente, está-se a cagar para o que dizem dela, está-se a cagar se os cd's vendem ou não e depois, tem uma cara muito cuchi-cuchi e, mesmo sendo loira, posso assegurar que a comia toda O_o

I am é de extremos, ou se ama, ou se odeia. Eu cá fico-me pelo primeiro...

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